terça-feira, março 8

Vale da sombra da morte

 
Já se imaginou entrando num vale onde a escuridão, de tão densa, parece que pode ser tocada? Já esteve caminhando num lugar onde a ausência da luz faz com que seus pés vacilem? Imagine-se, momentaneamente, caminhando neste lugar até perder a noção do espaço ao seu redor, seu equilíbrio começa a lhe faltar e a necessidade de se agarrar em alguma coisa, para não perder o equilíbrio, o leva de encontro ao chão.
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De um lugar como o que cabe nesta descrição, somente é possível sair, se um pequenino feixe de luz iluminar qualquer silhueta, seja ela qual for. Basta apenas uma minúscula esperança luminosa por mais insignificante que possa parecer. Este ínfimo feixe de luz há de nos garantir o restabelecimento do equilíbrio e da esperança, possibilitando que passos alternados sejam dados rumo a qualquer lugar onde a luz brilhe com mais intensidade.


De tudo escrito acima, fica a fácil conclusão de que não fomos feitos para a escuridão! Seja no sentido costumeiro e terreno da palavra, seja no sentido espiritual dela. Nosso ser clama pela luz, por aquilo que se pode distinguir e conhecer através dela.
Aliás, a escuridão, no homem, sempre despertou seus maiores temores. Normalmente, ela se associa a solidão, a tristeza, ao vazio e a ausência. Associamos a escuridão à morte como associamos os primeiros raios de sol com a vida, demonstrando o quão singular é a expressão para nós.
A palavra usada para descrever o “vale da sombra da morte” é encontrada, anteriormente, em Jo 24.17, compondo um dos textos mais antigos das sagradas escrituras, haja vista, que os historiadores afirmam que o livro de Jó é contemporâneo de Gênesis, remetendo, desta forma, a palavra do salmista a incontáveis gerações anteriores que já conheciam de antemão o problema que afligia o homem natural, a incerteza quanto a seu destino final.
O Salmo 23 tem aspecto profético e em grande parte se relaciona ao messias e a Israel, no entanto, vou me ater somente ao versículo 4, analisando-o num contexto geral.
De forma geral, ao lermos Sl 23 e Jó 24.17, o contexto da palavra gira em torno dos últimos momentos de vida, quando já não há mais o que fazer, ..., quando todas as nossas ações estão sendo postas sobre a mesa de julgamento, no momento derradeiro entre a vida e a morte, o último sopro que não se define, nem quando, nem onde ocorrerá.
Seria semelhante à conclusão de um livro, levando o autor mais próximo do desfecho de sua obra a cada linha escrita. E como será a última linha? A história se descortina a cada página, um capítulo chama outro, até que, fatidicamente, o último capítulo nos levará a última página, que encerrará toda a obra numa última sentença, vindo após ela o ponto final que tudo encerra. Mais do que nunca, o ponto final silencia a obra e permite que a história seja analisada, apreciada e julgada pelo leitor.
Nossa vida é como este livro, que após o ponto final será lido, analisado, apreciado e julgado pelo Senhor. Se acharemos graça nEle, dependerá do que ficou registrado nas páginas deste livro, de como vivemos nossas vidas segundo o conhecimento e revelação de quem Ele é.
Sob todas as coisas que nos levam a crer que não temeremos mal algum no vale da sombra da morte, ao caminhar com Cristo, cabe aqui as palavras do apóstolo Paulo, que interagem com o versículo de salmos de forma ímpar.
“Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8.31b-39)
Sendo assim, “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4).
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Postado por Ricardo Inacio Dondoni

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