sexta-feira, outubro 5

Crítica a uma pregação contemporânea e pós-moderna

O texto trabalhado pelo pregador foi o chamado de Mateus para ser seguidor de Cristo.
A respeito dele, o pregador tece uma linha de raciocínio que o conduz a tratar o tema relacionado a missões. O mesmo abre sua explanação levando em consideração o pronunciamento feito por outro evangelista: “Se você não tem amor por missões, há uma grande probabilidade de você nunca ter nascido de novo até hoje”.
A partir deste ponto o pregador faz uso de dados numéricos a respeito da quantidade de pessoas não evangelizadas no mundo (aqueles que não conhecem a Cristo), aqueles que nascerão e ainda não conhecem a Cristo e o esforço necessário para que todos sejam alcançados. Sua abordagem é feita baseando-se num esforço feito unicamente por missionários. Tal fato deve ser desconsiderado, pois não há como avaliar tal informação. Afinal, o evangelista não é o único que prega a palavra de Deus.
A avaliação não leva em consideração a decisão tomada por aqueles que foram resgatados pelos “evangelistas” de evangelizarem também aumentando significativamente a parcela daqueles que se dispõe a pregar as boas novas. Também não é levada em consideração a pregação feita pelos membros das igrejas que evangelizam de forma simples, porém eficaz, nem ao menos é levado em consideração o testemunho fiel daqueles que pregam a Cristo mediante a exposição direta de suas vidas, o que me leva a crer que a linguagem usada nada mais configura do que uma tentativa de comover o ouvinte, fazendo com que o mesmo seja movido a pregar Cristo por motivos errados. O Apóstolo Paulo sempre esteve preocupado em não utilizar recursos extras para atrair a atenção para si, nem de forçar uma conversão falsa através de emoção e sentimentalismo, ele fugia de qualquer tipo de linguagem persuasiva em detrimento da ação plena do Espírito Santo sobre as vidas das pessoas ao seu redor. “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.” É isto que Paulo afirma, mas isto é o que menos tem sido feito.
Outro fator interessante é o peso que é colocado sobre os ombros da Igreja quanto ao evangelismo mundial. Não é para a igreja ser motivada a pregar a palavra por medo, mas sim por amor, afinal de que adianta ganhar o mundo e perder a própria alma. Pregar pelos motivos errados somente nos identificará com a igreja do final dos tempos. Aquela que estará diante de Cristo, achando-se merecedora da salvação, mas não será considerada digna dela (falo da igreja física e não da espiritual). Esta é Laodicéia, aquela que representa o último período da igreja antes do arrebatamento. Antes de tudo, a palavra diz que “... para com Deus não há acepção de pessoas. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados. Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho”. É claro que está consciência que todos temos sobre certo e errado. Faz parte da revelação de Deus e se ela fosse suficiente para que TODOS os homens se salvassem não haveria a necessidade da intervenção de Cristo, mas não podemos excluí-la do processo, ela faz parte da revelação e por si pode auxiliar o homem conforme escrito acima. Por isso, acho perigoso demais sobrecarregar o cristão na obra que o Espírito Santo está a realizar.
Não é o homem que trabalha, mas o Espírito. Alguns, conforme abordado na palestra, menosprezam suas famílias em detrimento da palavra, da missão, e isto nos faz dignos de pena, pois na ânsia de ganhar o mundo perdemos o foco da salvação em Cristo e pior arrastamos uma massa na mesma direção, a começar pelas nossas famílias. Ficamos dessa forma, tão longe do poder do “evangelho puro e simples”.
Em outra passagem, o pregador fala a respeito da revelação de outro pastor que julgou ser o EUA os salvadores do mundo. Não contente com a resposta recebido de Deus a respeito da irrelevância dos EUA diante da obra de Deus, este, segundo o pregador, afirma que sem eles Cristo não poderia cumprir a missão, e em resposta as colocações do pastor, este ouviu uma voz celestial dizendo que a missão de resgatar o mundo foi repassada a America Latina.
Não vejo a exposição dos fatos da forma como foi abordada benéfica para nós, mas sim, com grande poder destrutivo, pois o modo como ele abordou o assunto eleva demais a auto-estima, bem como a soberba dos povos hispânicos e de origem portuguesas por serem estes os apontados como salvadores do evangelho. O que nos impedirá de cair nas mesmas afirmações cheias de soberba feitas pelo pastor americano? Se as palavras do deste pregador somente elevaram nosso ego e contagiaram nossas mentes fazendo-nos crer que somos melhores que eles.
Em outra de suas afirmações o pregador lembrou-nos que Deus não tem nacionalidade, fato este, que merece ser observado: É bem verdade que Deus não tem nacionalidade, mas não podemos levar isto ao pé da letra para todos os casos. Por exemplo, não podemos levar estas afirmações em consideração quando falamos com relação a Israel, pois Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre conforme suas palavras atestam. Jesus veio ao mundo como Judeu, descendente da tribo de Judá. Se ele é o mesmo ontem, hoje e sempre, ele continua sendo judeu. O termo judaico relacionado a resgate e pagamento do preço do pecado nos remete ao pagamento realizado necessariamente por um membro da família que tinha poder aquisitivo para resgatar as propriedades ou parentes que assim tivessem sido vendidos/escravizados. Podemos refletir ainda, que durante o período da tribulação as pessoas que estiverem vivas serão julgadas mediante seu posicionamento perante Israel, conforme atesta as escrituras.

Durante determinado trecho da mensagem, o pregador faz uso de uma analogia entre a queda do muro de Berlim e o fato de Cristo ter dito: “edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”. Simplesmente não há ligação alguma entre os dois fatos, sendo forçada uma ligação entre eles, devido à linha de raciocínio que o mesmo seguia.
Sua alteração de voz como forma de destaque dá indício de simples comoção pública. Não há argumentação, não há linha de raciocínio que sustente sua premissa.
Em outro episódio, o pregador narra seu contato com um budista tecendo comentário a respeito do momento em que ele quase agride o referido homem com palavras para contestar sua fé. ´
É claro que nas circunstancias levantadas é fácil detectar a ousadia com o qual o mesmo se levantou para defender o evangelho, ou para atacar outra crença, mas não sou partidário desta ousadia mais ligada à imprudência e petulância do que a coragem e destemor. Não penso que o episódio narrado se paute pela ousadia. Temo dizer que ouve mais sabedoria e inteligência humana do que ousadia em suas palavras. Digo isso porque tenho minhas dúvidas se ele seria tão incisivo em agredir a religião de um mulçumano com o fez com a do budista, fato este que se confirmou mais a frente quando passa a narrar o episódio que encontrou se com um seguidor de Maomé. Nesta ocasião portou-se de forma mais polida, também demonstrando mais sabedoria do que ousadia.
Segundo sua linha de raciocínio para abordar a importância de missões para Deus e nossa importância perante Deus o pregador afirma que mais de 680 milhões de espermatozóides são lançados pelo órgão reprodutor masculino em busca do órgão reprodutor feminino tendo que percorrer uma distancia de nove centímetros para alcançar o óvulo.
Ele nos lembra que de todos os espermatozóides ejaculados, Deus escolheu a um destes para nascer em detrimento dos outros 67.999.999 espermatozóides. Em seguida ele afirma que Deus escolheu cada um dos que o ouviam em detrimento de todos os demais que não alcançaram o óvulo. Tal abordagem me faz concluir que se eu era aquele espermatozóide, nele já estava a minha alma, e que a cada nascimento é necessário que 67.999.999 almas venham a morrer. Suas palavras deixam isto bem claro! Não posso crer num Deus que envia 67.999.999 almas por pessoas para o inferno por mero capricho... A meu ver, o pregador expressou-se muito mal utilizando os argumentos supracitados.

Quanto à solidão esta sempre foi e sempre será o ponto de inflexão na escola de formação do caráter cristão e é totalmente administrada por Deus. Nos livros, crescemos em conhecimento (inteligência), mas no deserto amadurecemos o coração para a obra ao qual Deus deseja nos dirigir e adquirimos todos os atributos necessários ao homem de Deus, tais como sabedoria, humildade, amor, bondade, longanimidade, etc. Basta olhar para os homens que passaram por estes desertos (Ex.: Moisés, Jesus, Paulo, etc).
Ele nos lembra muito bem que a pregação é o ponto primordial e que deve ser tratado com o devido respeito, assim como demonstra sua narração ao pregar para as árvores e para as melancias.
Creio que o pregador se equivocou a exaltar um tipo de evangelismo em detrimento de outro tipo, pois o fato de ser dirigido por Deus para um ministério de evangelismo mundial não deve servir de motivação para menosprezar aqueles a quem Deus não dirigiu da mesma forma. Não posso elevar meu ministério acima do ministério de ninguém, isto é pecado, por mais que eu ache que o ministério deste ou daquele é infrutífero, foi Deus quem o elegeu e é Deus em quem nele trabalha e realiza a obra. Não posso chamar aqueles que estão em suas casas tomando conta das suas famílias de covardes, pois Paulo mesmo afirmou que o casado deveria cuidar da esposa e o solteiro das coisas de Deus. Este Paulo é o mesmo que diz que o pastor, aquele que tomará conta de um rebanho, deve ser casado. Por não entender o que Paulo quis dizer misturamos suas palavras ora para atacar, ora para defender-nos. Tal questão deve ser interpretada de forma correta, não posso chamá-los de covardes. Esta atitude com o tempo nos renderá uma retratação pelas palavras pronunciadas, não porque o Espírito Santo enganou-se a proferi-las, mas pela língua afiada com a qual nos reportamos aos nossos ouvintes como se fosse o próprio Deus a dizer. Paulo é um homem que deixa bons exemplos nesta área, pois onde Deus não falava ele assumia seus próprios pensamentos diferente do que vemos hoje em dia. Um bom exemplo disso são as duas atitudes de Paulo com relação a João Pedro, ora dizendo ser indigno de caminhar junto com ele por não querer seguir em meio as dificuldades e aflições, ora retratando-se por verificar a necessidade dele para o ministério.

Não creio que Deus precise de nenhum de nós conforme o pregador atesta, pois esta escrito que até as pedras clamariam se nós não o fizéssemos, sem contar que esta obra os anjos anelam por executar mas Deus preferiu nos dar a honra. Honra esta que pode ser dispensada. Fulano ou ciclano não é a única ferramenta de Deus. Não temos um Deus dependente de nós para nada. Ele é soberano e se ele determinou que fizéssemos parte da obra foi simplesmente por misericórdia divina. Não somos fundamentais e nem imprescindíveis para o cumprimento do plano divino em Cristo.

De todas as coisas que foram ditas pelo pregador nada pode ser comparado ao exemplo pessoal vivido pelo mesmo com relação ao jovem punk vestido com uma camisa escrita com as seguintes palavras: “nascido para ir para o inferno”. Ali está todo o cerne das missões urbanas. Identificação do problema do homem, o diagnóstico e a cura.
Vivemos num mundo onde o amor de muitos esfria dia após dia e a solidão impera.
Vivemos numa época onde os países estão completamente integrados por uma rede de computadores, nos unindo em informação e cultura. Mas nunca na história da humanidade o homem esteve tão longe de seu semelhante quanto nos dias em que uma tela diante de seus olhos faz-lo contemplar a plenitude da solidão sem ao menos se importar por assim estar.
A falta de identidade, de amor, de comunhão e compaixão o arrastam para longe da presença de Cristo e é neste meio que estamos travando a ultima e mais penosa batalha da igreja contra as forças do inferno. No teatro de operações chamado laodicéia.

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