Não é de hoje que a igreja é bombardeada por sofismas! O dicionário Aurélio define sofisma como: Argumentos aparentemente válidos, mas, na realidade, não conclusivo que parte de premissas verdadeiras, ou tidas como verdadeiras, e chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante das regras formais do raciocínio; Ou ainda, argumento falso formulado de propósito para induzir outrem a erro. Em nossos dias, na tentativa de aliviar o sofrimento humano, alguns homens até bem intencionados tentam minimizar o sofrimento humano tornando mais brando os textos das escrituras quando estes se mostram incisivos demais. Em alguns caso, retiramos versículos de dentro do seu contexto, para criar argumentos “válidos” para aliviar aquilo que consideramos ser penoso demais. Levamos o povo de Deus a um estado de frenesi (delírio), que o faz aceitar aquilo que lhe é mais agradável. Foi essa premissa que vi embutida, nestes dias, num congresso de avanço espiritual! Na tentativa de formar líderes cristãos, o palestrante partiu de pontos considerados positivos, sob sua ótica, e lendo livrinhos infantis, daqueles com figuras ilustrativas abordou a questão da liderança, na qual havia um jacaré que era “diferente” dos demais. Não preciso nem dizer que 95% dos congressistas aprovaram e apoiaram a interpretação do palestrante sobre o inusitado jacaré. Este não andava como os demais. Andava em pé, pois do alto via melhor as coisas. Ao longo do seu caminho aprendeu a fazer coisas que nenhum dos outros jacarés faziam, como por exemplo, com o macaco aprendeu a plantar bananeira e perdurar-se em árvores pelo rabo. Ao retornar a lagoa para mostrar o que havia aprendido, os demais jacarés caçoaram dele, contudo quando este estava partindo novamente, aqueles jacarés que estavam na lagoa rindo, estavam tentando fazer as mesmas coisas que ele. Com isso, o palestrante mostrou que as idéias dos líderes, muito embora criticadas, tornam-se o padrão a ser seguido. Este premissa, sim, é verdadeira. Basta olhar para o panorama gospel atual. Com relação a questão da formação do líder necessitar torná-lo algo diferente daquilo que ele foi criado, esta, sim, é destrutiva, pois retirando o jacaré de cena e colocando o homem em seu lugar, que é a proposta de todo o texto, vejo, simplesmente, um homem descontente em ser aquilo que Deus o criou para ser um Homem! E por querer ser diferente, almejou ser algo mais do que aquilo para o que havia sido criado para ser! Para tornar mais claro, o que foi ensinado, por meio de ilustrações e figuras de linguagem, que ficou tão atrativo aos olhos e ouvidos de todos os presentes, pelo qual deixaram se seduzir foi o mesmo princípio de pecado que causou a queda de Adão e Eva! E aí? Caiu a ficha! Quando se conta a mesma história com personagens diferentes partindo das alegações que o coração julga corretas, torna-se mais fácil ser enganado e cair no mesmo pecado que condenou a todos. E isso não ocorreu entre os cristãos nominais, mas sim, entre aqueles que alegam e se julgam massa pensante da cristandade. Deus tenha misericórdia de nós!
Esta pequena abordagem, trata-se de um resumo das principais idéias que encontram-se dentro do livro DESESPERO: A DOENÇA MORTAL do escritor, Cristão e filósofo Soren Abie Kierkegaard. O Texto abaixo não passa de uma tentativa de escrever novamente de forma sintética os pensamentos cristãos que moviam a reflexão deste escritor parafraseando o texto original nos seus pontos culminantes...
João 11.3-4a
“Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele a quem amas. Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte...”
É de difícil compreensão, mas a doença da qual Lázaro padecia não era mortal, mesmo que ela o levasse a morte.
Faço menção deste versículo para que possamos trabalhar o assunto em pauta!
A partir do momento em que Cristo se aproxima do túmulo e exclama: “Lázaro, levanta-te e anda!” (Jo 11.43), já estamos certos de que esta doença não é mortal, mas é interessante constatar que mesmo sem estas palavras, Cristo demonstra ser a ressurreição e a vida (Jo 11.25).
Várias coisas poderiam ser analisadas a fim de constatar que aquela doença nunca fora mortal. Uma deles era o simples fato das pessoas terem se aproximado do túmulo de Lázaro, pois se a doença fosse verdadeiramente mortal, não haveria homens ao redor do local. Ninguém se aproximaria.
Mas que proveito haveria para Lázaro em ressuscitar se ele acabaria por morrer novamente? De fato, não é por causa da ressurreição de Lázaro que esta doença não é mortal! Mas sim por Ele (messias) existir é que a doença não era mortal.
Na linguagem humana a morte é o fim de tudo e por isso costuma-se dizer que enquanto há vida há esperança.
Para o cristão a morte é encarada como o início de todas as coisas, das quais, o que chamamos de vida é o preâmbulo da história de cada alma e de como esta resolveu viver a eternidade.
Neste sentido, para o cristão, nem mesmo a morte é uma doença mortal. Dessa forma, o cristão está mais longe do tipo de infelicidade que cerca as pessoas, pois todo o temer terreno a respeito da morte e fim da vida deixa de ser preocupação costumas do cristão.
Contudo, foi o Cristianismo quem descobriu algo que a existência do homem, como homem, negligencia e a esta miséria chamou de doença mortal!
Poderíamos enumerar a vontade tudo o que é horrível ao homem natural e o cristão rir-se-ía da maioria delas, pois a diferença do homem natural para o cristão é a mesma diferença da criança para o adulto.
A criança ignora o que é horrível. O homem sabe e teme. A criança ignora o que deveria temer e teme aquilo que nada diz ao homem.
Dessa forma é a relação de Deus com os pagãos. Simplesmente, não o conhecem como deveriam conhecer. Não o adorando erram mais ainda não pelo fato de não crer na existência de um ser divino, mas sim pelo fato de atribuir a outro aquela consciência de eternidade e divindade, adorando por vezes um ídolo em lugar do verdadeiro Deus.
Deste modo o único que conhece a doença mortal é o próprio cristão, pois o cristão tem a consciência desta horrível doença ignorada, e o tem pela coragem ignorada pelo homem natural, coragem recebida pelo “receio de um maior grau de horrível”.
No final o terrível horror de um único perigo torna todos os outros perigos inexistentes diante deste. A terrível lição aprendida pelo Cristão é conhecer a doença mortal.
A QUESTÃO DO SER OU NÃO SER
A famosa frase de William Shakespeare encobre tantos sentidos, entretanto, poucos, muito poucos, percebem o seu profundo significado.
A primeira dificuldade “ser ou não ser, eis a questão; se é mais nobre ao espírito suportar as pedradas da sorte ultrajante ou se opor a um mar de percalços e vencê-los”.
Em outras palavras, é melhor se conformar com o que somos e/ou temos, ou enfrentar as diversidades conscientemente. Entretanto, diante de uma ou outra opção enfrentaremos o mar de percalços, isto é, pagaremos “seu preço”, o preço da crise existencial de ter que escolher as conseqüências da decisão tomada.
Uma segunda dificuldade se encontra na própria estrutura da língua. Nessa perspectiva, não seria correto dizer: “Eu sou professor”, mas sim, “eu estou professor”, pois estou diante de uma circunstância, no caso, ministro aulas, entretanto, em casa, estou pai, marido, etc.. Portanto, estou no papel de professor. O ser é algo mais profundo.
Temos um exemplo bastante instrutivo em nossa contemporaneidade na música “Ouro de Tolo” do Raul Seixas: “eu devia estar contente, pois sou um cidadão respeitável e ganho 4000 cruzeiros por mês”, “... eu devia estar contente, pois comprei ...” O cantor critica a fragilidade do “estar” substituindo o “ser”.
O DRAMA DA ESCOLHA
Ser ou não ser, eis a questão. Realmente é a questão. O grande dilema humano. Não se consegue ficar neutro, temos a escolha. Escolha difícil: sermos a própria essência oculta em nós ou nos conformarmos à vontade dos outros, guiarmos nossas vidas pelo “eu quero” da própria alma ou pelo “tu deves” da sociedade?Sermos dirigidos pela cabeça ou pelo coração?
O homem é espírito, mas o Eu não é espírito! Quem é o Eu? Finito e Infinito, Temporal e Eterno.
Dessa forma, o desespero é o conflito entre o que é eterno e o que é temporal! Entre a Alma e o corpo, Entre os desejos e a obediência, entre o que vemos e o que cremos, entre o esperado e o visualizado. O Desespero é o momento de conflito onde o homem encontra-se momentaneamente indeciso entre o agir e o pensar.
Tanto o homem natural quanto o Cristão entram em desespero, contudo, o cristão o faz com consciência do que realmente é eterno e o homem natural desespera-se pelo seu conhecimento cotidiano.
A Doença Mortal é um mal cujo fim gera a morte... Não a morte conhecida em partes pelo homem natura e temida por ele, mas a morte conhecida pelo cristão, todavia, infinitamente superior ao conceito de morte estabelecido pelo homem natural, morrendo para a eternidade, de eternidade em eternidade...
O PROBLEMA DO DESESPERO AO HOMEM NATURAL
O maior problema do desespero ao homem natural é que este somente conhece o desespero ocasionado pelo cotidiano enquanto permanece no seu Eu “eterno e temporal”, por fim, conhecendo a doença mortal quanto está já o matou.
O problema do desespero, não é que a doença leve o homem a morte, e por fim, ao morrer, morre também a doença. Engana-se quem assim pensa, pois assim como um punhal não serve para matar um pensamento, a morte não serve para matar o desespero, este é um verme imortal, fogo inextinguível, ele não devora a eternidade do eu, mas tornar-se-á seu próprio sustentáculo. O Desespero tornar-se a autodestruição.
O desespero está em perder a eternidade ao lado de Deus.
O Homem natural desespera-se de coisas naturais julgando serem eternas e, por colocar o temporal no lugar do eterno, seu desespero aumenta dia após dia...
ORIGENS
Sem ter se desviado do destino espiritual ao qual o homem possuía não haveria desespero, o desespero está em ter-se desviado do destino espiritual a ele imposto e não saber como voltar, muito embora, não saber, não conseguir ou simplesmente não entender o que o faz desespero e o que o tornar desesperado, de modo que é melhor não pensar na eternidade do eu, pois é nela que habita a fonte do desespero do homem.
O CONSUMO DO DESESPERO
O desespero pode nos levar a caminhos diametralmente opostos:
“Ou sou César ou nada”. Mas ao não conseguir ser César, desespera-se por não suportar ser ele mesmo! Já não suporta o próprio “ser”, desespera-se por ser quem é, e busca ansiosamente livrar-se de si mesmo. O que ele não suporta, não é o fato de não ter-se tornado César, mas de não ter conseguido livrar-se de si mesmo.
Contudo, na realidade, ele não tornar-se-ía ele mesmo ao se tornar César. Este conflito interno não é o verdadeiro desespero, mas sim seu início...
Não conseguindo assim, movimentar-se em direção da mudança, do “vir-a-ser” um indivíduo de sua própria invenção. Isso leva o indivíduo a criar um escudo diante de si, pois uma das suas maiores ilusões, já que ele vive num mundo de pura fantasia é: "SE O MUNDO À MINHA VOLTA MUDAR EU TAMBÉM MUDO". Ele afirma quase que constantemente: "Se tivesse à inteligência de fulano ou as riquezas de beltrano, tudo seria diferente". Ele não consegue se ver como o gerente das circunstâncias da sua própria vida.
Por quê? Porque, o seu olhar não está voltado para si mas para o outro. Kierkegaard afirma: "ninguém pode ver-se a si próprio num espelho, sem se conhecer previamente, caso contrário não é ver-se, mas apenas ver alguém”.
É disso que o homem natural se desesperado, de si mesmo.
O horrível sinal desta doença não é o conhecer, mas o desconhecê-la, ou o segredo que se faz sobre ela. Não somente o desejo e os esforços bem sucedidos para escondê-la de quem padece dela, mas também, de que a doença pode nele habitar sem que ninguém descubra.
E uma vez, ao esvaziar a ampulheta terrestre nada lhe sobra, a não ser a doença que tão mortal e inexpugnável é, o “eu” agora, puro espírito, eterno, é incapaz de disfarçar.
O que é o desespero? É o ato de desesperar, perder a esperança...
Quanto mais consciente se tornar sobre as questões que o cerca, mas desesperado se torna seu estado final.
Sendo o do diabo o mais intenso de todos, espírito puro, e por esta razão consciência e limpidez de pensamentos absolutos, sem nada de obscuro que lhe sirva de desculpa de atenuante. De modo que, no mais alto nível atual que possuímos a cerca do desespero nada pode se comparar ao desespero pelo qual a alma eterna irá passar, uma vez limpa da obscuridade do temporal e entregue a eternidade e limpidez de pensamentos.
O pecado, não é o modo desregrado como vive a carne e o sangue, mas o consentimento dado pelo espírito do homem a este desregramento... Hoje, obscurecidos pelo temporal, no futuro, em limpidez de pensamentos, insuportável a alma eterna.
QUANTO AO SUICÍDIO
Suicídio para um pagão não é desespero, mas podemos afirmar que é a própria indiferença a este tema.
QUANDO AO CRISTÃO
Desespero do desespero. Desespero por pecar o leva a lugares mais profundos e sem retorno.
O Seu desespero causado pelo pecado o leva mais profundo ainda, pois julga a si mesmo. A si mesmo si condena quando diz: “Jamais me perdoarei por isso!”
Ao invés de perdão, resigna-se contra aquilo que poderia quebrantar seu coração, endurecendo-o contra si mesmo. Este é agir inflamado do Ego humano, que prefere buscar a própria perdição ao invés de auxílio.
INTERESSANTE: Era quando resistia à tentação que aquele que pecou julgou ser melhor do que realmente é. E seu ORGULHO o fez dizer estas palavras, pois não quer encontrar no passado a mácula deixada por seu pecado, por sua incapacidade.
TALVEZ algum dia este homem diga uma blasfêmia maior ainda do que “jamais me perdoarei”, afinal, nenhum homem é capaz de perdoar a si mesmo naquilo que se culpa. Talvez acabe por dizer que nem mesmo Deus o possa perdoar.
E pelo aumento de seu desespero, afasta-se daquele que pode lhe perdoar e sarar suas chagas...
ISTO QUE nos afasta de Deus, é o próprio orgulho, o amor-próprio. Neste ponto, agir como consolador deste, somente agravará o caso, pois massageará o ego dele, tornando-o ainda menos receptivo a cura.
AUMENTO DA CONSCIÊNCIA
A consciência aumenta o desespero, colocando cada um de nós contra a parede, enquanto Eu composto de “eternidade e temporalidade”. Isto se torna a precursora da cura.
Quanto mais intenso a doença se torna, mas fácil torna-se identificá-la. Quanto mais sintomas aparecem mais fáceis é diagnosticar a doença, o desespero em sua forma final.
O que leva o homem a buscar a curar para o desespero é a própria contraparte do desespero, o crer. Quanto mais intensos são os sintomas, mas fácil é diagnosticar o caso.
Conclusão
Embora a grande maioria dos seres humanos permaneça na “periferia de si mesmo”, acreditando que a existência consiste em buscar o prazer e evitar a dor, chega um momento na vida de todos nós que se descobre que a vida não é apenas isso.
A Ação do Espírito Santo sobre nossas vidas... É disso que o homem natural se sente desesperado, de si mesmo. Segundo Deus, todos são indesculpáveis, pois a consciência do erro, do pecado, da queda, está por demais arraigada a vida do homem natural, de modo que este se desespera para a perdição, pelo fato não estar consciente do seu eu Temporalidade e Eternidade, num mesmo ser, deixando que o que é temporal guie sua vida, e por fim quando tomar ciência da verdade maior por detrás dos dias terrestres, só lhe restará uma consciência desesperada acusando-o por toda a eternidade, como um verme imortal e fogo inextinguível a consumi-lo em seus próprios pensamentos que nunca o deixaram pela eternidade, de eternidade em eternidade.